DEFESA PROFISSIONAL

    


 “Quanto menos se ganha mais se trabalha”


Assim define o ortopedista Flávio Kuroki Borges, membro da Comissão de Defesa Profissional da SBOT-GO, a atual situação da ortopedia goiana

A insatisfação da categoria médica com a má remuneração tem aumentado e, apesar das tentativas de reação, como a mobilização nacional no Dia Mundial da Saúde, 7 de abril, a sensação geral é de que ainda existem bastantes obstáculos a serem superados para que as condições de trabalho se tornem minimamente dignas. E esta situação tem sido vivenciada em praticamente todas as especialidades da medicina.

Para o ortopedista Flávio Kuroki Borges, membro da Comissão de Defesa Profissional da SBOT-GO, a ortopedia goiana encontra-se numa situação ainda pior, já que está atrasada e literalmente parada no tempo em relação a honorários médicos e valorização profissional. “Estados vizinhos como Mato Grosso, Tocantins e Distrito Federal já trabalham com tabelas mais atualizadas e têm uma melhor valorização do profissional médico. Independente das comparações, temos que pensar e trabalhar olhando para o futuro da nossa profissão, nossa sociedade de ortopedia e da população. A classe médica, de uma maneira em geral, vem sendo envolvida em um perigoso ciclo onde quanto menos se ganha mais se trabalha’”, avalia.

Ele diz ainda que o mais cruel é que a maioria dos médicos tem ficado paralisada assistindo aos reajustes das operadoras de saúde e dos fornecedores de órtese e prótese, enquanto a classe médica recebe migalhas. “Como se não bastasse uma remuneração ridícula, alguns convênios demoram até seis meses para efetuar o pagamento. Em alguns meios de comunicação somos taxados de oportunistas, grevistas e responsabilizados pelo caos na saúde. A própria população está mais exigente. Pagam rigorosamente seus planos de saúde e querem ser bem atendidos”, contrapõe.

Já para o presidente da Comissão de Dignidade e Defesa Profissional da SBOT, Robson Azevedo Paixão, a entidade tem procurado levar aos ortopedistas brasileiros toda informação necessária para que, regionalmente, os especialistas consigam negociar com as operadoras de planos de saúde. “Este ano a palavra de ordem é mobilização. A SBOT orienta e estimula as regionais a se esforçarem para uma ampla mobilização de seus associados em torno da discussão dos honorários médicos e das negociações com as operadoras de planos de saúde. No segundo semestre realizaremos o II Fórum Nacional de Defesa Profissional, onde a participação dos ortopedistas será decisiva no sucesso das estratégias de valorização do trabalho médico”, convida.

Plantão
Flávio vai além nas reclamações, lembrando que alguns serviços querem que sejam cumpridas as vinte horas de plantão exigidas pela lei que rege a prestação de trabalho a clínicas e hospitais. “O engraçado é que não somos pagos devidamente por essas vinte horas dentro dos ‘rigores da lei’. Não temos um plano definido de cargo e salário específico para a classe médica, sem contar as péssimas condições de trabalho de algumas unidades. O que me causa espanto é o fato de que, na maioria dessas instituições, a diretoria é composta de colegas que parecem estar cegos diante da situação ou preocupados apenas com seu próprio umbigo”, critica.

No entanto, ele acredita que ortopedistas goianos têm um poder grandioso nas mãos, capaz de dar início a grandes mudanças, mas ainda está adormecido. “Com certeza a classe vai se organizar e por meio da união vamos conseguir vencer essa batalha. Calados e paralisados não ficaremos”, convoca, informando que a Comissão de Defesa Profissional iniciou um trabalho de conscientização, feito por meio de reuniões na sede da SBOT-GO e tem realizado visitas agendadas nos principais hospitais e clínicas de ortopedia de Goiânia.

Estivemos presentes no Congresso Goiano de Ortopedia realizado em Anápolis, onde a Comissão de Defesa Profissional teve um lugar de destaque. Foram distribuídos folders contendo uma pequena amostra da defasagem de honorários entre as tabelas AMB e CBHPM 5ª edição. A intenção é alertar toda a classe para a atual situação pela qual estamos passando e expor uma estratégia a fim de alcançarmos nossos objetivos”, antecipa. 
Segundo ele, para o segundo semestre a SBOT-GO passará a ter representatividade jurídica. A diretoria está planejando contratar uma empresa de advogados que possa amparar legalmente, e que disponha de tempo suficiente para assumir e fazer cumprir o que foi determinado pelo voto da maioria em assembleia. “A proposta básica é que todos os convênios, sem exceção, reajustem suas tabelas de acordo com a CBHPM 5ª edição. É importante lembrarmos que vários convênios, apesar de terem assumido a nomenclatura TUSS, permanecem com a mesma base de cálculo e sem reajustes. A recusa desses convênios para o reajuste implicará no descredenciamento dos principais hospitais e clínicas de ortopedia da capital”, alerta. “Os objetivos são claros e não existem outras propostas de negociação. Mas é preciso que todos os ortopedistas assumam o compromisso desse desafio para que possam trabalhar com honra e dignidade”, finaliza.

SBOT